"A roupa é uma página em branco" - Ronaldo Fraga e a escrita da moda

05 setembro 2011 Por Fernando Hage
Nesta edição da Feira Pan-Amazônica do Livro, a organização convidou o estilista Ronaldo Fraga para mostrar sua relação com a literatura, com direito à uma exposição de roupas durante o evento e uma palestra que o estilista apresentou no último sábado, dia 03/09.


A palestra, que trouxe o estilista pela primeira vez na cidade, foi intitulada de “Moda e Literatura: quando se lê as roupas e vestem as palavras”, e Ronaldo Fraga por mais de 1h30 falou sobre sua carreira, seu processo criativo, sua relação com o Brasil e é claro, como os escritores Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Mário de Andrade fizeram parte de sua trajetória criativa.

O criador mineiro iniciou a apresentação falando sobre a importância do diálogo com outras frentes criativas que a moda precisa ter, por isso a relação entre moda e literatura não deve ser vista com estranhamento. "A roupa é uma página em branco", sintetiza o estilista, que sempre busca livros para iniciar o processo de criação de uma coleção.

Vindo de uma geração que se alfabetizou lendo grandes escritores brasileiros, o estilista afirmou: "É impossível falar de moda sem história, sem escrita e sem leituras possíveis". São essas leituras possíveis que Ronaldo Fraga busca em seu trabalho, "lendo" não só palavras, mas imagens, sensações e memórias de cada tema que decide trabalhar. Só nos "personagens" citados durante a palestra, passearam pela apresentação Drummond e suas palavras, Guimarães Rosa e sua obra Grande Sertão Veredas, Mário de Andrade e seu projeto Turista Aprendiz, o teatro de bonecos Giramundo, além do "Velho Chico", o rio São Francisco.

Na apresentação de cada coleção, Ronaldo Fraga falou sobre seu processo de construção do desfile, que passa pelo "registro gráfico",  pelo "desejo de cores" e "desejo de formas", e pela concepção da cenografia e música de passarela, itens também muito importantes para a mensagem e sensações que o estilista quer passar na passarela. Segundo ele, todo o desfile pode ser o último, então ele precisa ser prazeroso.

Ronaldo Fraga apresentou os vídeos conceituais de 4 coleções ao público: "Todo mundo é ninguém", "A Cobra Ri", "Turista Aprendiz" e "Tudo é Risco de Giz", além do vídeo de apresentação da exposição "Rio São Francisco navegado por Ronaldo Fraga", que já passou por cidades como Belo Horizonte e São Paulo, e seguirá para Rio de Janeiro e Brasília nos próximos meses.



"Nem sempre os meus desfiles foram aceitos como eles são hoje", cita o estilista em uma das perguntas lançadas durante o bate-papo. Em outro momento, Ronaldo Fraga deu sua opinião sobre a moda brasileira: "é preciso encontrar um jeito nosso de pensar, produzir e vender moda", e quando perguntado se sua moda poderia ser considerada teatral, concordou afirmando que "moda é teatro e passarela é palco". Elogiando nossa região, o estilista falou da riqueza de nossa culinária e que "a escolha de cores do paraense é única".

Sem dúvida a palestra de Ronaldo Fraga foi um momento de inspiração para todos os estilistas, professores e estudantes presentes (e isso incluiu até choro no microfone por parte de uma das participantes). Para quem infelizmente não pôde comparecer a palestra segue aí embaixo o link de alguns vídeos conceituais do estilista, para continuar inspirando todo mundo a encontrar o seu próprio jeito de criar!

> A Cobra Ri ( 2006), Pina Bausch ( 2009) e Disneylandia (2010)

A Feira Pan-Amazônica do Livro acontece até o dia 11.09 (domingo) no Hangar Centro de Convenções, sempre das 10 as 22h.

Fotos: Elza Lima/Agência Pará de Notícias

1 Response to ""A roupa é uma página em branco" - Ronaldo Fraga e a escrita da moda"

  1. Débora Says:

    Ele é sensacional! Não só pelo seu jeito brasileiro de criar e valorizar a cultura, como também de incentivar a leitura nas pessoas mostrando como ela pode (e deve) ser aplicada em outras áreas. Com certeza, assistir uma palestra sua deve ser, além de muito motivante, uma experiência altamente interessante.

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