A palestra, que trouxe o estilista pela primeira vez na cidade, foi intitulada de “Moda e Literatura: quando se lê as roupas e vestem as palavras”, e Ronaldo Fraga por mais de 1h30 falou sobre sua carreira, seu processo criativo, sua relação com o Brasil e é claro, como os escritores Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Mário de Andrade fizeram parte de sua trajetória criativa.
O criador mineiro iniciou a apresentação falando sobre a importância do diálogo com outras frentes criativas que a moda precisa ter, por isso a relação entre moda e literatura não deve ser vista com estranhamento. "A roupa é uma página em branco", sintetiza o estilista, que sempre busca livros para iniciar o processo de criação de uma coleção.
Vindo de uma geração que se alfabetizou lendo grandes escritores brasileiros, o estilista afirmou: "É impossível falar de moda sem história, sem escrita e sem leituras possíveis". São essas leituras possíveis que Ronaldo Fraga busca em seu trabalho, "lendo" não só palavras, mas imagens, sensações e memórias de cada tema que decide trabalhar. Só nos "personagens" citados durante a palestra, passearam pela apresentação Drummond e suas palavras, Guimarães Rosa e sua obra Grande Sertão Veredas, Mário de Andrade e seu projeto Turista Aprendiz, o teatro de bonecos Giramundo, além do "Velho Chico", o rio São Francisco.
Na apresentação de cada coleção, Ronaldo Fraga falou sobre seu processo de construção do desfile, que passa pelo "registro gráfico", pelo "desejo de cores" e "desejo de formas", e pela concepção da cenografia e música de passarela, itens também muito importantes para a mensagem e sensações que o estilista quer passar na passarela. Segundo ele, todo o desfile pode ser o último, então ele precisa ser prazeroso.
"Nem sempre os meus desfiles foram aceitos como eles são hoje", cita o estilista em uma das perguntas lançadas durante o bate-papo. Em outro momento, Ronaldo Fraga deu sua opinião sobre a moda brasileira: "é preciso encontrar um jeito nosso de pensar, produzir e vender moda", e quando perguntado se sua moda poderia ser considerada teatral, concordou afirmando que "moda é teatro e passarela é palco". Elogiando nossa região, o estilista falou da riqueza de nossa culinária e que "a escolha de cores do paraense é única".
Sem dúvida a palestra de Ronaldo Fraga foi um momento de inspiração para todos os estilistas, professores e estudantes presentes (e isso incluiu até choro no microfone por parte de uma das participantes). Para quem infelizmente não pôde comparecer a palestra segue aí embaixo o link de alguns vídeos conceituais do estilista, para continuar inspirando todo mundo a encontrar o seu próprio jeito de criar!
> A Cobra Ri ( 2006), Pina Bausch ( 2009) e Disneylandia (2010)
A Feira Pan-Amazônica do Livro acontece até o dia 11.09 (domingo) no Hangar Centro de Convenções, sempre das 10 as 22h.
Fotos: Elza Lima/Agência Pará de Notícias
5 de setembro de 2011 às 17:31
Ele é sensacional! Não só pelo seu jeito brasileiro de criar e valorizar a cultura, como também de incentivar a leitura nas pessoas mostrando como ela pode (e deve) ser aplicada em outras áreas. Com certeza, assistir uma palestra sua deve ser, além de muito motivante, uma experiência altamente interessante.