Nosso querido Açai está ficando cada vez mais globalizado. Junto com a febre do açai com guaraná, granola, banana, uva passa, morango que assola a região sudeste do país (alguns paraenses ficam enjoados só de pensar na mistura), o fruto também começou a aparecer em cosméticos no Brasil e agora chegou "chegando" no mercado internacional. É que a marca Kiehl´s, em comemoração ao dia da terra, lançou um tonificante protetor para a pele à base de açaí e chamou para desenhar os rótulos pessoas de peso como Julianne Moore, Jeff Koons, Pharrell Williams e Malia Jones. A edição é limitada e está a venda desde o dia primeiro no
site da marca.
Talvez existam pessoas que não tenham percebido ainda, mas a Amazônia e seus produtos estão cada vez mais em destaque dentro do mercado. O interesse pela região mistura não só questões ambientais, mas também curiosidades sobre a cultura e o potencial que determinados produtos naturais, já utilizados na região há tempos, podem ter na indústria cosmética, entre outras.
Quem não conheçe o Palmolive Amazônia, feito com castanha do pará e linhaça (linhaça?), mas que mostra como os produtos com esse "selo amazônico" estão cada vez mais populares. As propriedades químicas de determinados frutos, sementes e folhas estão sendo cada vez mais descobertos e utilizados em diferentes indústrias. A malharia Menegotti, por exemplo, produz a malha Ecologic, de algodão orgânico, e amaciante natural que têm como base a manteiga extraída das sementes do Cupuaçu.
Pensando nas questões ambientais, a marca Osklen, que desfila na SPFW, se aliou a WWF e lançou como sua campanha de inverno 2007 a coleção "Amazonian Guardians" (Guardiões da Amazônia). A idéia foi alertar sobre o desmatamento da região, tentando unir as pessoas em torno da preservação, mas o que se viu foram muitas camisetas com o nome do projeto circulando por aí.
Outra iniciativa que une sustentabilidade e moda é a da marca de tênis francesa
Veja. A marca produz seus tênis com algodão orgânico do nordeste ou couro processado naturalmente com extrato de acácia. O solado, com selo "borracha da amazônia", é extraído e manufaturado por uma comunidade no Acre e por fim, tudo é costurado em Novo Hamburgo (RS) e parte para ser comercializado principalmente na França, com preços em média de 80 euros.
Mas nem sempre a Amazônia serve de inspiração por questões ambientais ou por causa de seus insumos. O empresário carioca André Bendavit começou ainda quando era estudante, na Austrália, a vender bíquinis brasileiros produzidos no Rio. Quando decidiu abrir sua empresa, decidiu chamá-la de Marajoara, fazendo referência a tribo indígena primitiva que habitou terras paraense. A grife não têm discurso ambiental nenhum, mas com esse nome charmoso continua fazendo sucesso na Austrália e é comercializada no Brasil também pela internet na loja
Khoris.com.
Depois de tantos exemplos interessantes de como a Amazônia vem inspirando novos produtos para o mercado, deixo uma pergunta no ar: se a região está cada vez mais em pauta, por que ainda vemos poucos amazônidas (e especificamente paraenses) aparecendo no mercado? Muitos consumidores estão de olho na Amazônia e muitas empresas de fora estão trabalhando com os materiais da região, mais ainda são poucos os próprios habitantes da Amazônia que prestam atenção nisso, o que é uma pena, pois a Amazônia, em toda sua história, parece só ser descoberta por exploradores estrangeiros. Que tal mudarmos isso?
Fernando Hage